Quem Foi Dion Fortune?

Dion Fortune foi uma das mais importantes ocultistas do século XX. Adepta da magia cerimonial, foi também uma escritora prolífica, tanto de livros de ocultismo quanto de ficção. Mas o que realmente marcou sua contribuição cultural foi seu pioneirismo em inserir conceitos de psicologia na prática do ocultismo, e também princípios do ocultismo no estudo da psicologia. São dela os méritos de levar os trabalhos de Freud e Jung a um novo patamar, e de desmistificar pontos do conhecimento oculto que até então limitavam-se a uma abordagem quase religiosa. A Origem do Nome Dion Fortune A britânica (galesa, não inglesa) Dion Fortune nem sempre foi chamada assim. Nascida Violet Mary Firth Evans, escolheu seu nom de plume em referência ao lema de sua família. Deo, non fortuna, em latim, significa por Deus, não pelo destino. Mas mesmo enquanto ainda se chamava Violet, Dion Fortune sempre esteve fortemente ligada ao oculto. A Pequena Violet Desde pequena, coisas estranhas aconteciam com Violet/Dion. Aos quatro anos de idade, relatou visões de Atlântida. Lembranças de vidas passadas também não lhe eram estranhas. Também tinha o hábito de devanear, de sonhar acordada. O que os “adultos sérios” que a cercavam consideravam um hábito tolo acabou se mostrando um exercício poderoso de visualização, um dos fundamentos sobre os quais viria a estabelecer seus talentos mágicos. A jovem Violet, frequentemente envolta por fenômenos que não podiam ser inteiramente explicados, se interessou pelo poder da mente e se graduou em Psicologia pela Universidade de Londres. Entrando de Cabeça no Oculto Aos 20 anos, Dion Fortune foi vítima de um sério ataque psíquico, que a fez querer explorar melhor as profundezas da psique humana. O tal ataque ocorreu em 1911, enquanto ela trabalhava em uma escola, para uma diretora que claramente não gostava dela. Ao comunicar à diretora que tinha decidido sair do trabalho, sofreu dela um seríssimo ataque psíquico, que deixou graves sequelas. Segundo palavras da própria Dion, ela ficou um “destroço mental e físico” por três anos. O incidente a inspirou a pesquisar o tema a fundo, pesquisa esta que culminou no clássico livro Autodefesa Psíquica. O caso também é apresentado resumidamente em O Renascer da Magia, de Kenneth Grant, que teve a oportunidade de conhecê-la pessoalmente. Mas seu real interesse pelo ocultismo foi despertado apenas em 1916. Foi quando, como psicoterapeuta, ela se deparou com o trabalho surpreendente do Dr. Theodore Moriarty, que se tornou seu primeiro professor esotérico e inspirou a ficção The Secrets of Dr. Taverner. Dion Fortune e os Mestres Secretos Foi nessa época que ela se afiliou à Sociedade Teosófica. Durante seus estudos esotéricos, tomou conhecimento da Grande Loja da Fraternidade Branca. A partir daí, entrar em contato com os Mestres Secretos se tornou sua obsessão. Essa busca fez com que fosse iniciada na sociedade que viria a ser conhecida como a Ordem Hermética da Aurora Dourada, a Golden Dawn. A Ficção de Dion Fortune Dion Fortune escreveu diversos livros de ocultismo que são referências até hoje, como Autodefesa Psíquica e A Cabala Mística. Mas suas obras de ficção também merecem destaque. Nos anos 1930, ela produziu diversos romances bastante singulares. Ao contrário da enorme maioria da produção literária na época (e até hoje), os romances de Fortune não eram só histórias. Eles continham ensinamentos ocultos que eram considerados “secretos” demais, na época, para serem comunicados diretamente. Estes conhecimentos foram obtidos através de suas afiliações a ordens iniciáticas, mas também por meio de suas próprias investigações. Destacam-se em sua ficção A Sacerdotisa do Mar, O Deus com Pés de Bode e Moon Magic. Estas obras foram seminais para a religiões neopagãs que estava renascendo na Inglaterra naquela época. Até hoje a dívida de religiões matriarcais modernas com Dion é enorme, seja em seus ritos e costumes, seja no desenvolvimento de sua mitologia. A Cabala Também é “culpa” de Dion Fortune a disseminação da Cabala que podemos ver nos dias de hoje. Antes uma ciência em grande parte restrita ao conhecimento judaico e às ordens iniciáticas, a Cabala passou a ser uma coisa acessível e palatável graças à contribuição de Fortune. Seu livro A Cabala Mística é o principal responsável por essa desmistificação, mas grande parte de sua obra também bebe dessa fonte. Em A Cabala Mística, além de introduzir os conceitos de Árvore da Vida, Sephiroth, Qliphoth, entre outros, Dion defende que a verdadeira natureza dos deuses é a das imagens mágicas formadas a partir do plano astral pelo pensamento da humanidade e influenciadas pela mente. O livro se mantém até hoje como referência indispensável ao estudante interessado no tema. Tretas O ataque psíquico de 1911 não foi o único ataque que Dion Fortune sofreu. Tendo publicado diversos livros contendo “segredos iniciáticos” em linguagem simples e compreensível para o cidadão comum, despertou a ira de alguns membros da Golden Dawn. Entre estas inimizades destaca-se a de Moina Mathers, esposa de Samuel MacGregor Mathers, um figurão da Golden Dawn. Um detalhe: Mathers publicou A Clavícula de Salomão, que também contém vários segredos ocultos que foram então expostos pela primeira vez a não iniciados. Por algum motivo, Moina não ficou com raivinha de Samuel. Mas deu um jeito de expulsar Dion Fortune da Golden Dawn, alegando que ela não trazia em sua aura os sinais de uma verdadeira iniciada. OK. É claro que uma batalha mágica ocorreu na sequência. No corner azul, Moina Mathers, que não tinha nenhuma credencial exceto ser esposa do cara que realmente entendia das coisas. No corner vermelho, Dion Fortune, ocultista peso pesado, obviamente competente, com uma inteligência claramente acima da média, e especialista em ataques psíquicos. Se eu fosse Moina, escolheria melhor meus inimigos. Quem precisa de Golden Dawn? Nesta época, Dion conheceu o médico Thomas Perry Evans, que também se interessava pelo oculto, e acabou se tornando seu marido. Dion e Thomas fundaram seu próprio grupo, cujo primeiro nome foi Chalice Orchard. Depois passou a se chamar Fraternidade da Luz Interior. Por fim, recebeu o nome de Sociedade da Luz Interior. Dion e Tomas acabaram (é claro) sendo a sacerdotisa e o sacerdote da Sociedade. Esta fraternidade não demorou a se tornar uma poderosa escola iniciática, contando com membros célebres na sociedade da época. Doze anos depois, os dois se divorciam, e Dion aluga uma propriedade em Londres, que dedicou aos Mistérios de Ísis. A Herança de Dion Fortune Fortune é reconhecida como uma das mais importantes ocultistas e magistas cerimoniais do século XX. Em O Renascer da Magia, Kenneth Grant a coloca ao lado de Aleister Crowley e Austin Osman Spare como os três principais responsáveis pelo renascimento das antigas tradições mágicas em tempos contemporâneos. A Fraternidade que ela fundou se manteve após sua morte, e em décadas posteriores gerou uma variedade de grupos relacionados com base em seus ensinamentos. Suas novelas, em particular, exerceram grande influência no renascimento neopagão que se estabelecia na época, o que inclui a Wicca e outras vertentes da bruxaria contemporânea. A Fraternidade da Luz Interior continua a ser baseada em Londres, mas agora é conhecida como Sociedade da Luz Interior. Ela explora técnicas da tradição esotérica ocidental. A Sociedade até hoje enfatiza Fortune não era uma bruxa, nem estava envolvida com nenhum coven, e que a Sociedade não está conectada com feitiçaria de qualquer forma. Tá bom. Hoje, mais de sete décadas após sua morte, as obras de Dion Fortune continuam sendo extremamente influentes, e importantes referências em seus campos de estudo. Destacam-se Autodefesa Psíquica e A Cabala Mística, que estão disponíveis, em português, na loja da Penumbra Livros.
Fonte: http://www.penumbralivros.com.br/2017/07/quem-foi-dion-fortune/

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