Leituras, pensamentos e interpretações de uma bruxa de 3 décadas de vida!

Lendo o Almanaque Wicca 2013, descobri uma matéria que me chamou a atenção com algumas frases. Frases essas que me fizeram pensar e escrever para postar num blog ou mesmo nas redes sociais das quais faço parte. Esse ano estou com garra pra escrever. Quem sabe não é o começo da minha ascensão no mundo dos escritos e da redação? A primeira frase que me chamou atenção foi: “Em vez de mulheres narigudas com verrugas na ponta do nariz, que soltam gargalhadas malévolas quando uma coisa ruim acontece, pense nas boas senhoras que tiravam quebranto de crianças, nas curandeiras que preparavam garrafadas e que se comunicavam com seres da natureza.” Muitas pessoas pensam na bruxa como uma velha ranzinza que só faz maldade. Mas, por quê? Existem tantas pessoas ruins que são jovens e belas! Ainda ontem ouvi falar na Miss do crime que ataca lá na Zona Norte de Natal. Será culpa dos contos de fadas? Será culpa das religiões cristãs que difundiram esse medo nas pessoas? Ou é puro preconceito dos próprios seres humanos? Pensando nessas curandeiras, me lembrei de que quando era criança, sempre que tinha uma doença que me deixava mole minha mãe dizia que eu estava com olhado, o famoso quebranto, e me levava logo para Dona Maria Curadeira para me benzer. Ela pegava um ramo de pinhão roxo, fazia o sinal da cruz e começava a balançar pra lá e pra cá dizendo algo que eu não compreendia. Lembro-me de já sair de lá me sentindo melhor. E lembro o dia em que tentei observar o que ela fazia pra tentar fazer igual, pois eu queria ter o dom da cura para salvar o mundo como meus heróis da TV. Fiquei hipnotizada com a planta, não vi mais nada, não ouvi mais nada, só depois que minha mãe disse: “vamos pra casa” foi que acordei do transe. O que vi nesse tempo? Pessoas desconhecidas com roupas antigas num círculo e uma mulher linda de cabelos vermelhos me chamando. Nunca entendi isso até me tornar bruxa. Pensei que era eu no futuro, já que tinha a esperança de crescer e ficar bonita, diferente do que era na época. Mas, hoje sei que era a Deusa me chamando! Não me lembro dos rostos das pessoas, mas será que eram o povo bruxo que conheço hoje ou povos antigos, ancestrais, deuses? Hoje em dia ainda tem uma curandeira perto de casa, também chamada Dona Maria, embora seja outra mulher, também cura da mesma forma. Essa nova curandeira, eu entendo o que ela fala. Ela fala em Jesus o tempo todo, a cada 10 palavras dela, 5 eram Jesus. Não me sinto bem lá! Já tentei receber essa benção dela e não serviu de nada, não me senti bem como antes, não fez efeito. Por que será que isso acontece? Não sei! Sobre as garrafadas, só tenho a dizer que tenho uma bruxa em casa, minha mãe. Ela faz garrafadas e lambedores pra tudo que se possa imaginar. Perguntei a ela de onde ela tirou esse conhecimento e ela me disse que aprendeu com a mãe dela, minha vó. E minha vó aprendeu com a mãe dela, minha bisavó. E por aí foi até a primeira geração de “bruxas da família”. Mas, minha mãe afirma que não é bruxa, que eu sou a primeira ovelha negra da família e que esse conhecimento se chama sabedoria popular, a qual todas as pessoas do sertão têm acesso desde pequenas. É ciência que os homens civilizados ainda não descobriram, mas andam fuçando nos laboratórios das universidades. Eu estou aprendendo com ela pra continuar a tradição da família. É hereditário e deve continuar por toda a eternidade! Outra frase que me chamou atenção foi: “Elas acham que bruxas não ficam doentes, não têm problemas com dinheiro e nada de ruim acontece com elas. Acham que bruxaria é coisa do demônio ou que bruxas, por não comungar com a fé geral num Deus único, vão para o inferno, mesmo que sejam pessoas boas. Também acham que bruxas agitam uma varinha e milagres acontecem.” Não sei o porquê desse pensamento, afinal, bruxos ou não, somos todos seres humanos, temos defeitos e virtudes. Eu sou prova de que nada disso é real! Eu, como qualquer ser humano fico doente, tenho gripes, cólicas, depressão e etc. Sou pobre, tento a sorte jogando na loteria, telesena, sorteios e bingos de todo tipo, e continuo pobre, ganho uma vez ou outra alguma coisa, mas sou igual a todo mundo. Coisas ruins podem acontecer a qualquer um de nós. Eu mesma fui assaltada o ano passado, fui reprovada em disciplinas na universidade, perdi empregos, não passei em entrevistas de estágios e etc. Isso me faz ser uma charlatã? Não! Isso me faz deixar minha fé em busca de outra? Não! Todo mundo está sujeito ás mesmas leis do universo e eu, como bruxa não seria diferente! Sobre a varinha, só tenho a dizer que o povo acha que Harry Potter é real pra pensar dessa forma. A coisa não é como no cinema! É vida real minha gente! Ao longo do artigo, a autora dá umas explicações sobre as coisas que o povo acha que é ser bruxa e o que é ser bruxa de verdade. Entre elas, algumas me chamaram a atenção. Uma delas foi: “Quanto à relação com a Divindade,... as bruxas têm fé como todo mundo. A diferença é que, para elas, o Deus cristão ganha outra roupagem, outra interpretação, geralmente feminina. Para elas não há um Deus punitivo, que castiga com raios e desgraça quem não o adorar. Bruxas também variam tanto de tradições e crenças quanto de pessoas comuns. Algumas adoram o Deus único, como os cristãos. Outras adoram a Deusa, uma versão feminina e mais antiga do Deus cristão. Outras ainda adoram o Deus Pai e a Deusa Mãe, para um equilíbrio total. O panteão de divindades abaixo dessa força criadora máxima é tão extenso – talvez até mais – que o panteão de santos católicos, pois é comum ver bruxas misturando panteões, trabalhando com deuses gregos, celtas, africanos e até santos cristãos. Bruxas podem ir aonde bem entenderem e isso vale para lugares físicos e astrais. Por isso elas transitam com alegria pelas várias dimensões”. É bem verdade que nós bruxas, temos fé igual a todos. Mas, não concordo que o Deus cristão ganhe outra roupagem na minha vida. Creio que há sim um ou outro Deus ou Deusa que nos castiga. Concordo que há variações quanto ás tradições assim como os demais, mas não concordo com esse sincretismo religioso que fazem por aí. Na minha visão, bruxaria e cristianismo são como água e óleo que não se misturam jamais! Em termos de comparação para melhor entender à relação dos bruxos com seus deuses, até aceito que se faça essa relação com santos católicos, mas ressalto que não é a mesma coisa! Essa história de que podemos ir para onde bem entendermos, vale não só para bruxos, em minha opinião, mas para todos nós, afinal somos livres para sermos e fazermos o que quisermos! Essa história de transitar com alegria pelas várias dimensões, não creio que seja bem assim. Muitas vezes nem sabemos que estamos transitando pelas dimensões ou temos medo ou experiências ruins. Afinal, o mundo não é cor-de-rosa! Eu que o diga! Já fiz viagens pelas dimensões que me deixaram toda arrepiada, bem como mais alegre, bem como não fizeram nenhum efeito por eu não saber que estava fazendo tal coisa. Um trecho que também me chamou a atenção foi: “A pergunta que mais ouço é se bruxas já nascem bruxas. Algumas pessoas já nascem com uma vocação, mas, como tudo na vida, viver a magia é uma escolha”. Isso sempre vez ou outra é perguntado pra mim. Tem que ter um dom? Tem que já ter sido bruxa em outra vida? Eu não nasci bruxa, mas se eu tiver filhos, eles nascerão bruxos. Por quê? Simples, como mãe eu quero que meus filhos sigam o mesmo caminho que eu. É uma característica de todos os pais, embora alguns os deixem livres para escolher seus caminhos, ainda sim tentam leva-los pelos mesmos caminhos. Isso é fato! Há ainda outro trecho assim: “... bruxas não andam em vassouras, embora este seja um de seus instrumentos mais comuns. Elas também não fazem sacrifícios com animais. Bruxas pegam ônibus metrô, avião, trabalham e cuidam da família.” É verdade que bruxas não andam em vassouras, elas voam! Mas, somente na imaginação das pessoas isso acontece. Se eu soubesse voar em uma vassoura não pegava um circular lotado todo dia pra chegar à UFRN. Se eu tivesse um meio de transporte desses - que, diga-se de passagem, seria perfeito por ser um belo disfarce anti-ladrão – eu não precisaria pegar um ônibus lotado uma hora antes dos meus compromissos só pra não chegar atrasada. Se vassouras voassem de verdade, eu iria pra onde me desse vontade e nunca pararia no mesmo local por muito tempo. Eu viajaria pra qualquer lugar da face da Terra. Seria demais! Sobre os sacrifícios com animais (e acrescento aqui o sacrifício de gente também), concordo que isso não existe na minha religião. As pessoas pensam que por uma religião ou outra ter feito algo no passado, isso é feito hoje em dia. Mas, não é assim que a banda toca! As coisas mudaram, as pessoas mudaram, o pensamento mudou nesses últimos tempos. E como mudou! O advento de doenças sexualmente transmissíveis impediu a continuação dos bacanais, por exemplo. A evolução da ciência que mostra que os animais tem consciência, a educação sobre o direito a vida e etc., fez com que esses sacrifícios deixassem de ocorrer. Há ainda algumas religiões que a praticam? Deve ter, eu não sei e nem me interesso! O que me importa é a minha religião e eu sei que nela não tem nada disso. Vejo na TV absurdos do tipo: uma criança morreu num ritual de magia negra por um feiticeiro, uma bruxa etc. As pessoas matam porque gostam de matar, porque são assassinas e não por fazer parte de religião A ou B. Eu acho um absurdo a justificativa de que estava possuído quando cometeu o crime, de que foi guiado por uma entidade. Já é hora do povo acordar pra realidade, de saber diferenciar o que é fantasia e o que é real! Aí chagamos a parte em que ela lança as perguntas: “Então, o que faz uma bruxa exatamente?” e “Mas o que fazer para se tornar um bruxo?” E ela tem as respostas para isso: “Faz magia! Ou seja, estuda e pratica formas de manipular energia através do conhecimento.” e “As pessoas pensam que precisa de um mestre, de uma super hiper ultra iniciação feita por uma mega ultra sacerdotisa, buscar o chifre do último unicórnio ou o último pássaro dodô! Mas não precisa de nada disso.” Concordo com tudo isso e acrescento que em toda religião que já fiz parte na vida, precisei estudar muito. Nunca fui de crer em algo só porque os outros mandam. Sempre questionei as coisas e nunca tive as melhores respostas. Tudo que eu perguntava aos meus pais, por exemplo, era respondido com um “pregunte pra sua mãe, pergunte pro seu pai” e terminavam com um “é porque Deus quer”. Odiava isso! Desde então passei a buscar as respostas eu mesma, estudando, pesquisando e praticando. Quanto à iniciação, até hoje não fiz essa iniciação da forma que pintam por aí. Minha iniciação foi simples, entre mim e os Deuses, sem precisar de uma equipe de TV para filmar o evento. Extraído e adaptado de Eddie Van Feu. Confissões de uma bruxa igual a você. In: Almanaque Wicca 2013: Guia de magia e espiritualidade. Editora Pensamento. São Paulo. 2012-2013.

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